"Vox" e o feminismo lutando por todos



Imagine um país de governo totalitário e teocrata onde as mulheres perderam todos os seus direitos. Direito ao mercado de trabalho, à posses, ao voto, à liberdade sexual, à leitura e principalmente o direito à voz. Imagine todas essas mulheres confinadas à vida doméstica e ao uso de contadores de palavras. São permitidas apenas 100 por dia. Porém, não foi tudo tão abrupto assim. Cada dia que passava um direito da mulher era retirado, pouco a pouco, como se não fosse fazer diferença. Quando todas viram, já estavam se tornando escravas de um sistema. 

O livro Vox de Christina Dalcher tem como premissa essa sociedade destruída por um governo baseado nas noções de totalitarismo e de crença em um deus. O presidente eleito se junta a uma figura cristã na época das eleições e promete restaurar a moral de um país. Para a surpresa de muitos, apesar do discurso violento e preconceituoso, ele é eleito. O resultado foi uma volta no tempo onde as mulheres dependem exclusivamente da renda e da autorização masculina. Jean, uma especialista em neurociência e linguística, perde seu trabalho e se vê confinada dentro de casa. Quando o governo precisa de sua ajuda, reivindica sua voz ao mesmo tempo que penetra naquele sistema na tentativa de recuperar tudo o que lhe foi tirado.

Um dos pontos que mais me chamou atenção é a lavagem cerebral usada pelo governo para convencer aquele povo de que tudo o que está sendo feito é para um bem maior. O uso do nome de um deus e de uma figura religiosa reforça a legitimidade das ações. O governo diz que se existe desemprego é porque um dia as mulheres tomaram as vagas de trabalho destinadas aos homens e se hoje as palavras devem ser contadas é porque um dia elas protestaram demais e agora merecem ser silenciadas para entender seu lugar social. O uso dos jovens como uma grande massa de manobra me lembrou das táticas de Hittler na Alemanha nazista. No livro os meninos são ensinados a pensar de que não existe outro lugar para a mulher que não seja dentro de casa e as meninas são incentivadas a falar cada vez menos, com direito a prêmios para aquela que falar a menor quantidade de palavras na semana. 

Esse livro me fez pensar muito em todas as lutas por direito que estamos travando com o governo atual. O livro dialoga com vários aspectos do movimento feminista reforçando a importância a consciência de luta que todos devemos ter. Principalmente em um cenário onde tudo aquilo que foi conquistado por mulheres antes de nós está sendo colocado em jogo. Claro que, se salvarmos as devidas proporções do livro com nosso cenário atual, percebemos que aos poucos estamos caminhando para a realidade de Vox. O uso da violência, a diminuição da representatividade feminina na política, a palavra de deus para legitimar ações e o discurso misógino, racista e homofóbico foi o início. Devemos continuar lutando para que esse não seja nosso início e sim o fim de uma era movida pelo preconceito.

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