"Period. End of sentence." e a força da união feminina



O documentário indiano dirigido por Rayka Zehtabchi ganhou um Oscar na última premiação por melhor documentário em curta-metragem. A estatueta o acabou por surpreender até a própria diretora que na premiação disse que nunca imaginaria que um filme sobre menstruação ganharia um Oscar. Isso apenas revela a força que esse documentário tem.

Em um país onde apenas 10% das mulheres usam absorventes descartáveis, elas são obrigadas a usarem panos como um método improvisado. Com a pouca eficiência desse método, o sangue acaba vazando fazendo com que as mulheres abandonem a escola, trabalho e funções sociais. Além do uso dos panos, as mulheres ainda têm que lidar com uma concepção completamente deturpada da menstruação. Para as anciãs, aquele é um sangue sujo, para os homens, uma doença que afeta algumas mulheres. Com isso elas são proibidas de entrar em templos e de proclamar sua fé em forma de orações. Ter contato com essa visão de mundo, como mulher, me assusta e me revolta ao mesmo tempo. Fico o tempo inteiro me lembrando que não devo julgar a cultura alheia baseada na minha própria, mas ver mulheres como eu sendo marginalizadas é muito doloroso.

Dentro dessa realidade, um coletivo se junta para produzir absorventes de forma manual e mais econômica. Um homem implanta a máquina em um vilarejo e deixa com que as mulheres trabalhem recebendo salários e comissões de venda. Esse foi um dos momentos que mais me tocou durante o documentário. As mulheres trabalhavam felizes. Uma delas, com mais de 50 anos, disse ser seu primeiro emprego, enquanto outra, mais jovem, estava muito feliz de finalmente ter seu dinheiro para poder comprar presentes para o irmão.

O documentário não fala apenas de uma ascensão da mulher na sua forma mais básica, como o direito de frequentar e de ir e vir, antes bloqueados pelo método dos panos. Estamos falando de uma independência financeira e emocional, onde a menstruação ganha uma luz que tira aos poucos a sombra do tabu ao mesmo tempo em que permite com que mulheres ganhem seu dinheiro e busquem em si mesmas o porto seguro que antes viam apenas nos homens.

Falar sobre o quanto somos privilegiadas nesse aspecto é muito importante, pois entender esses privilégios nos deixa mais sensíveis ao outro, principalmente quando nosso primeiro ato seria o julgamento. Os absorventes e a união daquelas mulheres deram mais do que higiene e conforto para elas. Deram a oportunidade de continuarem estudando, trabalhando e frequentando a sociedade. Afinal, "A period should end a sentence, not a girl's education".


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