"Maleita" e a relação colonizador-colonizado



Descobrir Lúcio Cardoso foi um dos presentes me dado ao ler a biografia de Clarice Lispector escrita por Benjamin Moser. Um dos grandes amigo da escritora, a biografia discorre com muito carinho sobre a obra de Lúcio me deixando curiosa sobre um autor tão elogiado por Clarice, mas que nunca nos foi apresentado quando estudávamos literatura nacional na escola. Maleita foi escrito quando Lúcio tinha entre 17 e 19 anos, informação que me assustou e me deixou maravilhada ao mesmo tempo. 

O escritor mineiro tinha como objetivo contar a história de uma terra em Minas Gerais sendo colonizada por Antônio Menezes, um viajante. Ao chegar naquela terra sem dono, Antônio encontra um grupo de pessoas com costumes completamente diferentes dos seus, alguns até imorais para o colonizador. Em uma tentativa de transformar aquele lugar numa cidade, ele acaba impondo aquilo que acha adequado, tentando mudar os costumes de um povo que a muito habitava aquele lugar. Fica claro para o leitor a crítica ao colonizado que Cardoso faz dentro de seu livro. Podemos realocar essa situação para a colonização portuguesa no Brasil, por exemplo, onde índios foram mortos e forçados a aceitarem uma cultura que não era a deles em nome de uma moral cristã.

Lúcio também critica de forma muito enfática a vinda do colonizador como uma ameaça para a saúde dos colonizados. A maleita, conhecida por nós como febre amarela, foi trazida por Antônio em sua migração. Com o tempo a bexiga, conhecida hoje como varíola, entra na comunidade junto com um viajante que se interessa pela prosperidade da vila. De forma muito criativa e delicada o autor explora a chegada das doenças que mataram os índios durante a colonização, deixando muito claro quais as consequências da chegada de colonizadores dentro de uma terra já ocupada por seu povo cheio de cultura própria. 

No fim, Antônio tinha boa intenção em todo o processo. Achava que para que o lugar prosperasse era necessário que mudanças fossem feitas. A grande questão que levanto nesse texto é entendermos às custas de quem e do que que essas mudanças se concretizam. Naquela pequena cidade, gerou revolta e mortes, mas em escalas nacionais pisamos no sangue de muitos índios para podermos viver nossas vidas modernas. O colonizador pode trazer a evolução e a modernidade, mas sempre vai sacrificar uma parte daquela cultura já instaurada. No momento atual, onde discutimos a importância de terras indígenas e da moral cristã, acredito que Maleita seja uma grande leitura.

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