"Os pilares da Terra" e o estereótipo feminino



Eu nunca tive grande apreço por romances históricos e no geral acabava fugindo deles por achar que tinha muita fantasia ali. Poder ler Os pilares da Terra me mostrou a beleza que existe nos romances históricos e como eles podem ser informativos quando bem feitos. Porém, Ken Follet foi muito além de uma boa pesquisa e conseguiu com esse livro trazer muitos aspectos da história medieval combinados com uma das tramas mais bem desenhadas que já tive o prazer de ler. 

A história se passa em uma Inglaterra do século XII conturbada pelas batalhas de sucessão do trono. Em um vilarejo, um Prior e um construtor tentam realizar seu grande sonho: construir uma catedral gótica. Essa construção é palco para intrigas políticas e religiosas em uma sociedade soberba e violenta. A catedral acaba se tornando o personagem principal desse enredo que, na minha visão, tem como seu ponto forte as grandes maquinações políticas. Essa habilidade des costurar fatos, pessoas, bolar planos e ideias foi o que mais me encantou dentro da história. Não foi o romance ou a grande história de superação, mas a forma com que o autor conseguiu mostrar com grande veracidade como pessoas sedentas pelo poder se comportam. 

Podemos observar um clero completamente corrompido pelo dinheiro, lordes cruéis, mesquinhos e uma coroa que não se importa com nada além de seu próprio conforto. Essa imagem da sociedade medieval foi perfeitamente narrada por Follet com a maestria de um grande pesquisador. Mas mesmo sabendo do momento histórico, senti-me muito incomodada com a forma que o autor descreve as figuras femininas. As personagens não são seu grande trunfo e me incomodei com suas construções pouco criativas aliadas imagens da mulher que são muito comuns em livros escritos por homens. Acabamos vendo dois estereótipos de feminino: aquela que é bela e foi violentada para enfim ser forte e a mulher feia traiçoeira que tem grandes aspirações de poder. 

A impressão que tive é que o autor queria colocar a mulher no lugar ou de sofredora ou de megera, imagens essas que sabemos serem construções muito antigas do feminino e que, pelo menos por mim, não passa mais batido dentro da literatura. As mulheres podem ser fortes sem precisar passar por violência e não precisam ganhar o título de víbora por desejar subir na vida. Entendo que um livro escrito em 1989 carrega em si todo um pensamento social em vigor na época, mas devemos sempre estar atentos aos estereótipos para poder combatê-los. 

No fim, a história dessa catedral é um épico da nossa literatura. Uma leitura fluída e personagens extremamente cativantes construíram uma história muito agradável de se ler. O apego emocional é inevitável. Você vai amar e sofrer junto com aqueles personagens. Terá raiva e sentirá compaixão. Isso, para mim, é o que qualifica um grande contador de histórias.


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