"O conto da Aia" e a luta contra o sexismo




Imagine um país que teve seu governo derrubado por um grupo cristão fundamentalista e que instaura uma teocracia. Imagine direitos básicos sendo retirados dos cidadãos em nome da religião. Imagine mulheres sendo usadas e culpabilizadas pelos crimes sexuais que são vítimas. Espero que você não tenha precisado se esforçar tanto para imaginar isso, pois apesar de parecer ficção, essas situações são realidade. E foi dessa realidade que Margaret Atwood tomou como inspiração e escreveu O conto da Aia, que apesar de ter sido lançado em 1985, permanece assustadoramente atual.

No livro acompanhamos a história da Aia “Offred” em um país que foi tomado pelo fundamentalismo religioso. Para que a sociedade pudesse continuar, os militares tomaram o poder e as mulheres foram divididas em categorias. As Marthas, que são responsáveis pela limpeza e comida da casa de seus comandantes. As Esposas, donas de casa inférteis. E as Aias, mulheres férteis que são destinadas para casas de comandantes a fim de engravidarem e poderem dar continuidade à raça humana.

Para se tornar uma Aia, as mulheres férteis precisam passar por um treinamento dado pelas Tias. Esse treinamento consiste em convencer aquelas mulheres que elas não são nada além de incubadoras humanas e que não teriam mais o direito da liberdade, da vaidade e do questionamento. Tudo em prol de um Deus e da esperança da continuidade da raça humana. Em uma das cenas mais fortes, uma aia posicionada no centro de uma roda conta sobre um estupro que sofreu e a Tia logo levanta o questionamento: De quem foi a culpa? As Aias levantam seus dedos e apontados para a mulher do centro dizem de forma repetitiva: a culpa foi dela.

Entender que O conto da Aia permanece atual é entender as questões sociais que permeiam o fato de ser mulher. O trabalho de Atwood foi extremar ações e conceitos usados nas sociedade que vivíamos em 85 e que permanecem enraizados até hoje. É muito simples ver isso quando ainda hoje não se aceita uma mulher decidida a não ter filhos. Mulheres só são completas e realmente mulheres quando os têm. Quando ainda é questionada a veracidade de um abuso e usada a roupa e o comportamento como atitudes que fomentam essas ações. Afinal, quem mandou estar vestida assim nesse lugar a essa hora?

É assustador ver que no fim, somos as aias, as esposas e as marthas. Perceber que hoje, 2019, século XXI, ainda somos rebaixadas, humilhadas e exigidas por uma sociedade patriarcal atolada até o pescoço em um machismo venenoso. Ser mulher não é apenas viver, é sobreviver em um mar de dedos apontados em nossas caras nos gritando culpas. Nos abraçamos ao feminismo como uma luta e uma esperança de um dia não termos mais esses dedos apontados para nós, para que possamos passar pela sociedade com a mesma tranquilidade e oportunidade que um homem.

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