"Megarrromântico" e a evolução da imagem da mulher gorda no cinema



É incrível perceber a quantidade de filmes lançados com protagonistas gordas, nesse blog já é o segundo que será comentado. Como uma mulher gorda, isso me deixa muito feliz por poder ver como estamos ganhando espaço em uma mídia que era dominada pelo padrão estético. A representatividade é algo importante na formação e na maneira com que você se enxerga perante o mundo. Teria sido muito mais fácil para mim e meu processo de aceitação ter tido essas mulheres na televisão e no cinema falando sobre corpo e amor próprio. Megarromântico parece ser apenas uma paródia dos filmes de romance que vemos por aí, mas se mostrou militante pela conquista do amor próprio.

O filme conta a história de Natalie, uma menina gorda que era apaixonada por romances, até ser convencida por sua mãe que um homem como os galãs de filmes nunca poderia se apaixonar por mulheres como elas. A baixa auto-estima da mãe passada para a filha cria nela uma grande falta de amor próprio que acaba por se refletir em sua vida profissional e amorosa. Apesar de ser uma ótima arquiteta, Natalie não é respeitada e vista como uma boa profissional na empresa que trabalha ao mesmo tempo que não percebe o interesse amoroso que Josh tem por ela. 

Um dia, Natalie bate a cabeça na tentativa de fugir de um assalto e ao acordar se encontra dentro de uma comédia romântica que tanto odeia. É muito divertido ver a maneira com que o filme parodia os clichês os tornando completamente absurdos, desde as músicas, as falas do galã e a maneira mágica com que as coisas parecem se resolver. Acaba por ser uma grande crítica à falta de veracidade de filmes desse gênero e a forma com que eles tratam o amor em um mundo imaginário. Natalie enfim percebe que para sair desse pesadelo precisa se apaixonar, como nos filmes, e se aproveita do interesse de Blake sobre ela para encontrar seu caminho de saída. 

No fim, a chave para a saída nunca foi ser amado por alguém e sim conseguir amar a si própria. Ser capaz de se olhar no espelho e ter orgulho daquilo que você é e amar a pessoa que você se tornou abre uma série de portas na vida da personagem, até para aceitar que outra pessoa a ame. Essa mensagem do filme não é acompanhada por um discurso sobre corpo, mas sim sobre autoconhecimento, deixando o fato de a personagem ser gorda como um mero detalhe dentro da trama. 

Se fosse para apontar uma única falha durante o filme, seria a transformação física que a mesma sofre. No começo, Natalie anda com seu cabelo ondulado e roupas confortáveis em cores de preto e cinza. Após seu processo de aceitação vemos uma Natalie de cabelo escovado, maquiagem e roupas com cores mais chamativas. Essa nova personagem consegue enfim mostrar seu talento dentro da empresa e é reconhecida como tal. Podemos dizer que essa nova estética é a exteriorização da nova maneira com que ela se vê, mais bonita e mais segura. Mas isso acabou me incomodando quando se abre a possibilidade de associar sua primeira imagem com fracasso e a segunda como sucesso. Sabemos que fracasso e sucesso não dependem da forma com que você se veste, mas com a forma com que você se porta e se mostra com atitudes perante os outros. Gostaria de ver aquela mesma mulher de cabelos ondulados e roupas confortáveis conseguindo se fazer ser ouvida e mostrando que talento não é acompanhado de estética. 

No fim, consegui ver algumas melhoras na trama se comparado com Dumplin’, por exemplo. Percebo que estamos em uma evolução constante do uso da imagem da mulher gorda e acho incrível como esses passos estão sendo tomados com certa velocidade. Como disse no meu outro texto, espero um dia poder ver uma personagem gorda se libertando de todos os estereótipos de aceitação para poder protagonizar um filme cuja temática não seja seu corpo ou amor próprio. 

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