“Somebody to love: the love, death and legacy of Freddie Mercury” e a maneira com que construímos nossa forma de ver o mundo



Lembro perfeitamente da primeira vez que vi o Freddie Mercury. Meu pai tinha um DVD com os melhores clipes dos anos 70 e 80 e adorávamos colocá-lo pra tocar enquanto fazíamos as atividades de casa. Um dia, andando pela sala, com os meus 7 ou 8 anos, vi aquela figura de cabelo comprido, sapato de salto, casaco preto com brilhos, unhas pintadas de preto e delineador nos olhos. O clipe era da música Killer queen. Eu fiquei encantada com aquele visual e com a forma com que aquele homem se movimentava enquanto cantava com uma das vozes mais incríveis que já tinha escutado. De volta ao presente, nesse exato momento, enquanto coincidentemente o Deezer começou a tocar Killer queen, consigo lembrar com perfeição a sensação de surpresa e estranhamento que senti ao ver um homem que não se parecia com nada com a figura masculina que estava acostumada.

Colocar-se para entender a vida de alguém tão reservado quanto Freddie me pareceu um trabalho e tanto. Somebody to Love é uma biografia extremamente detalhada de sua vida e da história da AIDS pelo mundo. Os autores foram muito inteligentes em contar as duas histórias em paralelo, afinal elas se unem de uma forma trágica em algum momento. Percebe-se que os autores buscaram vários lados das mesmas histórias e tiveram o cuidado de relatá-las com perfeição e meticulosidade, deixando claro que a história do Freddie é cheia de incertezas e incompatibilidades.

As fotos inéditas que o livro contém são um deleite para os fãs e todos aqueles que gostariam de saber mais de uma vida tão reclusa e protegida. A edição do livro é impecável. Capa dura, páginas de fotos em papel fotográfico e uma jacket linda. Infelizmente, o livro ainda não foi traduzido para o português, mesmo tendo sido lançado em 2016. Espero que as editoras brasileiras se interessem por essa obra, pois é uma das biografias do Freddie mais completas que já vi.

Ao final do livro, depois de me emocionar muito com as histórias dos últimos dias do cantor, percebi que conforme fui envelhecendo, passei a entender as diversas formas que o ser humano é capaz de se expressar tanto em relação com seu gênero quanto em relação com sua orientação sexual. Hoje, olhando para trás, consigo dizer com certeza que foi essa admiração pelo Freddie que fez com que construísse em mim esse sentimento de empatia e admiração por aqueles que decidem enfrentar os padrões sociais.



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