“Cordilheira” e a literatura nacional contemporânea



Quando pensamos em literatura brasileira, logo lembramos de alguns nomes clássicos que nos foram apresentados na época do colégio: Machado de Assis, Augusto dos Anjos, José de Alencar. Aos 15 você muito provavelmente teve que ler Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. Nossa, que livro complicado. Você muito provavelmente teve que ler Iracema de José de Alencar, também. Cheguei à um ponto que não aguentava mais saber da índia dos cabelos negros. E isso nos deixou marcados. Ficamos marcados contra a literatura nacional. Criamos preconceitos e olhamos de maneira torta para qualquer autor nacional que surja. Achamos que qualquer autor será tão denso quanto Machado e passamos uma vida de leitura olhando para as publicações de outros países, afinal ali eu encontro a literatura de entretenimento que procuro.

Quando terminei de ler Cordilheira, do autor nacional Daniel Galera, pensei em escrever como eu tinha criado uma enorme antipatia com a personagem principal. Acompanho o trabalho do autor por pelo menos quatro anos e nunca tinha topado com uma personagem como essa, que me fizesse pensar “ok, idiota, tá na hora de tomar um rumo na vida, né?”. E a experiência foi incrível pelo simples fato de ter que lidar com essa personagem tão diferente de mim. Uma personagem que buscou no seu refúgio para Buenos Aires uma tentativa de se encontrar e acabou rendendo mais que uma história de amadurecimento. Fui me vendo impressionada ao longo do livro e confirmando essa experiência fantástica, porém, mesmo sendo extremamente suspeita para falar do Galera (meu autor nacional favorito), resolvi levar essa discussão por outro caminho.

O Galera foi o primeiro autor nacional contemporâneo que tive contato e devo dizer que a leitura de Barba Ensopada de Sangue me fez abrir os olhos e expandir esse horizonte que me foi bloqueado lá nos anos de escola. Não é só de Machado que somos feitos. Ele é importante sim, mas não devemos nos apegar só ao seu legado para taxar toda uma diversidade literária nacional. Nesses últimos anos descobri autores nacionais aos quais me apaixonei. Não tive medo de me jogar em nomes desconhecidos. Arrisquei e encontrei histórias maravilhosas, simples e cheias de significados.

Entendo que atualmente o mercado editorial não dá muita visibilidade para esses autores. Mas fica aqui a dica: comecem pelos romances do Daniel Galera. Logo você estará adorando Edney Silvester, Alcione Araújo, Rubem Braga e muitos outros que virão logo depois desses. Aos poucos eu descobri que somos muito ricos na literatura e o somos nos dias de hoje. Percebi que eram essas mãos nacionais que escreviam histórias cotidianas com incrível complexidade. Percebi que posso continuar adorando Machado, mas que seus sucessores me fizeram tão feliz dentro das páginas de um livro quanto ele fez. 




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