"À sombra do jatobá" e o poder do feminino



Quando a autora de “À sombra do jatobá” entrou em contato comigo para saber se eu gostaria de receber seu livro senti extrema gratidão pelo trabalho que venho fazendo tanto nesse blog quanto no instagram. Ver seu esforço se materializando em reconhecimento é uma das sensações mais incríveis que existem. Junto com isso, existe também o orgulho. Orgulho de ver uma mulher brasileira publicando o fruto de seu esforço em um país que ainda não entendeu a grandeza de suas obras nacionais nem a genialidade de suas autoras. O resultado foi um livro onde a sensibilidade de R. C. Maschio transborda pelas páginas nos emocionando e nos fazendo pensar como o feminino tem poder.

A autora nos teletransporta para um Brasil escravocrata enquanto acompanhamos a história de Ercília, uma mulher nascida brasileira e escrava de uma fazendo de cana-de-açúcar. Essa figura tão ignorada e maltratada ganha o protagonismo desse livro ao lado das outras mulheres da família que habitam a casa-grande e tentam passar por cima de um patriarcalismo feroz em prol de seus sonhos. 

A escrita de R. C. Maschio é coberta de emoção e intensidade, como se cada cena te atravessasse por completo e deixasse um pouco delas dentro de você. Tanto em uma das cenas mais emocionantes de parto que já li quanto na morte mais dolorosa, a delicadeza está presente ao mesmo tempo que não ameniza as atrocidades vividas pelos escravos. Está muito claro o nível de pesquisa feita pela autora assim como a clareza da organização da linha temporal. Escolher contar a história de Ercília aos poucos enquanto a vemos definhar apenas nos deixa mais apegados e muito mais tristes quando o fim se aproxima.

A escrita perfeita e o enredo apenas foram pano de fundo para uma questão que saltou muito aos meus olhos enquanto lia. Em um momento como o atual, onde vemos cada vez mais discussões sobre o feminismo, gosto de me perguntar: meu feminismo alcança todas as mulheres? Sabemos que mulheres brancas e negras têm similaridades e diferenças em suas lutas para se libertar do machismo, mas estaria eu lutando apenas pelo ideais da minha cor? 

Ao ver Ercília como a escrava que visa pela liberdade do trabalho e Theodora, a filha do fazendeiro, que visa pela liberdade de voz percebo como lutamos por coisas tão diferentes e tão parecidas ao mesmo tempo. Entendo que devo ser cada vez mais empática pela causa do outro assim como as mulheres de “À sombra do jatobá” foram umas com as outras. Entendo também que a união daquelas mulheres fez com que o ciclo patriarcalista fosse quebrado e que isso só será possível quando pudermos nos juntar com a luta do outro e ganhar mais força na busca pela liberdade desse feminino que ainda mora sob a sombra do masculino.




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