“Minha Luta 1 – A Morte do Pai” e a mágica conexão entre leitor e personagem



Ao longo desses dez anos de leitora, passei por vários gêneros literários. Romance, jovem adulto, terror, suspense, policial, biografias, tantas opções que ficava pulando de um livro para outro tentando incessantemente encontrar aquele lugar na literatura em que me sentiria acolhida e mentalmente satisfeita. Os romances de construção apareceram para mim por acaso e ao término do primeiro livro do gênero percebi: era isso. Finalmente tinha encontrado. Eu não me interessava por bruxos, vampiros, casos policiais ou casais apaixonados. O que eu queria mesmo era acompanhar a construção e o amadurecimento dos personagens. A história de vida de alguém, por mais simples que parecesse me encantava por poder me preencher de experiências que eu nunca tinha vivido e poderia nunca viver. Muitas vezes, as experiências eram muito distantes da minha realidade e em alguns romances eu me vi ali, escrita por aquelas linhas.

A saga Minha Luta do norueguês Karl Ove Knausgard me causou um pressentimento de egocentrismo no início. O autor propõe contar em seis volumes a sua própria vida. Pretensiosismo ou não, o fato de poder entrar em contato, sem censuras, com as ideias e as experiências da vida de um escritor despertaram muito minha curiosidade. E foi a minha surpresa quando me vi amarrada àquela vida simples tão intensamente. A fluidez da escrita de Knausgard nos dá ânimo para continuar enquanto a ânsia pela história pessoal daquele ser humano não me deixava em paz momento algum.

Li e me vi ali em tantos momentos que muitas vezes nossas histórias se misturavam em minha cabeça. Vi-me representada na infância, nas suas relações com os pais. Vi-me representada em sua adolescência, nas suas inseguranças e nas horas mergulhadas nos livros. Vi-me representada em sua fase adulta e na falta de confiança naquilo que escrevia. Era como se nos entendêssemos mutuamente e pudéssemos sentar ali, na mesa de um bar e trocar essas experiências malucas que a vida é capaz de nos impor. 

Ao terminar esse livro, passei a entender o que tanto falavam sobre conexão entre leitor e personagem. Passei a entender alguns aspectos sobre mim mesma e a refletir sobre eles. Compreendi que a vida te faz passar por algumas coisas que vão deixar marcas muito profundas e que cabe a você encontrá-las, entendê-las e seguir em frente. Carregando cada experiência com orgulho e sempre a enriquecendo tanto com o que a vida lhe dá, quanto com o que a literatura é capaz de proporcionar.






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